Claudio e Isabelle caminhavam pelo parque naquela manhã de 13 de novembro.
Era uma manhã sem calor e sem frio, de modo que ela usava uma blusinha branca de alças, e ele vestia o mesmo casaco xadrez vermelho e verde de sempre.
Caminhavam lado a lado pela trilha de paralelepípedos, e estevam rodeados de árvores e dos cantos de muitos diferentes pássaros.
Caminhavam em silêncio. Era uma manhã calma e de poucas pessoas para incomodar. Ele tragava seu cigarro na medida de poucos passos e olhava para as copas das árvores enquanto ela olhava para as pedras em que pisava, com as mãos nos bolsos da larga calça jeans que vestia. Volta e meia ele a olhava. Via nela os cabelos lisos e castanhos escondendo o rosto que mirava para baixo. Às vezes ela chutava alguma pedrinha no caminho, e ele achava aquilo extremamente charmoso, então olhava para cima novamente e dispensava a fumaça dos pulmões. Quando ele fazia isso, ela o olhava. Observava a imponência do tamanho de Claudio e seus olhos castanhos e intensos e confiantes que observavam as folhas verdes acima de suas cabeças. Ela achava charmoso a forma como ele andava, era como se ele soubesse exatamente o que queria da vida, então sorria e olhava para baixo novamente.
– Qual o motivo de não termos dado certo? – ela questionou sem olhar para ele, com sua atenção voltada para os paralelepípedos e as pequenas pedras no caminho prestes a serem chutadas para longe.
– Você não quis que déssemos certo e desistiu – ele respondeu calmamente vendo algumas folhas que eram arrastadas dos galhos pelo vento que soprava forte e as levava para longe.
– Não querer que dê certo e não querer algo que não estava dando certo são coisas diferentes – Ela falou sorrindo.
Ele dispersou mais uma lufada de fumaça e a encarou sem ter o olhar dela de volta.
– No fim das contas nem importa – ele falou – Se pararmos pra pensar, as coisas dão certo ao modo delas. Hoje conseguimos sorrir um para o outro sem ter que ficar remoendo o que aconteceu. A única coisa importante realmente é que as coisas, de uma forma ou de outra, não deram certo para dar certo, entende?
Ela estacou e ficou ali, parada olhando para baixo. Ele deu mais dois passos até perceber que ela havia interrompido seu caminhar, e então parou e virou-se para ela. Ambos se olharam.
– Como as coisas estariam hoje se tivéssemos insistido?
Ele fez um muxoxo e deu de ombros quando respondeu:
– Fodidas.
Ela riu daquilo. Achava atraente a forma escrachada que ele tinha de falar.
– Ou lindas – ela disse mirando seu olhar azul nos castanhos dele.
– E cor-de-rosa? – Ele indagou.
– Com pitadas de verde limão.
– E riscos cinzas para quebrar o escândalo das cores que você sempre escolhe.
– Tudo num fundo branco para que caibam mais cores que ainda estão por vir.
Sorriram.
– É – ele disse se virando e continuando com seus passos.
– É – ela falou dando uma corridinha e retomando o ritmo dos passos da caminhada junto a ele.
Ele olhou para cima novamente e viu uma folha cair lentamente sem ser levada pela força do vento. Estendeu a palma de sua mão deixando a bituca do cigarro cair e agarrou a folha.
Ela olhou para baixo e viu uma pedrinha perfeita para ser golpeada com um de seus pés, mas não o fez.
Ficaram em silêncio novamente e caminharam naquele dia quedo onde os pássaros cantavam suas canções.