Hoje tive uma experiência no mínimo triste.
Saí mais cedo da faculdade. Aula de inglês é chata. Não pela professora que é maravilhosa, mas por mim. Por eu não gostar nada dessa língua.
Quando cheguei na estação da Sé pela linha azul, havia uma senhora sentada ao meu lado. Devia ter uns quase 85 anos de idade. Carregava bolsas, e se via que ela tinha energia de espírito, mas seu corpo era inteiramente frágil.
Pra quem me conhece, sabe que eu tenho mais compaixão de idosos do que de crianças. Isso é um fato.
Eu já pensei em ajudá-la quando chegou na Sé, mas antes de eu me manifestar, ela me pediu ajuda. Peguei suas bolsas e saímos de braços dados do vagão. Fomos ao elevador central da estação e fomos para o andar de cima rumo a Itaquera. Conversamos sobre como o metrô estava cheio de pessoas. Incrível como conversar com idosos é muito mais significante do que falar abobrinhas com meninas de idade entre 20 e 25 anos.
Entramos no vagão. Logo ofereceram para ela um assento no trem lotado. Nos separamos por hora. Antes disso ela me agradeceu e eu sorri.
No Tatuapé, em meio a multidão, ela desceu para fazer baldeação para o trem. Mais uma vez eu quis ajuda-la e desci de lá com ela. Ela riu formosamente ao me perguntar se eu descia ali mesmo e eu respondi que iria até a estação Patriarca.
Acompanhei-a até o piso acima, e meu objetivo era deixá-la dentro do trem da CPTM.
Mas ao chegar na escada rolante da CPTM ela me impediu. Disse que era conhecida dos guardas do trem, e que dalí eles a ajudavam. Achei estranho ela querer descer as escadas sozinha, mas se ela disse, as ordens eram dela.
Me afastei e ela pareceu confusa. Eu a observava de longe pra saber se ela acertaria a escada com aquelas bolsas. Uma garota parou ao lado dela. Devia estar oferecendo ajuda. Depois a menina se distanciou.
Então a senhora caminhou até o lixo da estação e começou a revirar o que havia dentro. Dei dois passos pra frente e pestanejei. Parei de novo. Eu tinha uns trocados na carteira para oferecer, mas em momento algum ela pareceu uma pessoa que precisava. Ela era digna. Parei ali, estacado, e não voltei até ela. Dei as costas e tomei meu rumo.
Eu poderia tê-la ajudado, sim… Mas e se eu ferisse a dignidade dela? Ela teve muito tempo para me pedir dinheiro e não o fez, pelo contrário; ela me distanciou para que eu não olhasse o que ela realmente fazia ali. Eu não poderia ferir a dignidade daquelas rugas que devem ter passado por tantas coisas.
Ela me disse, enquanto esperávamos o elevador na Sé, que estava com problemas na coluna, e por isso precisava de ajuda para carregar as coisas. Ela disse que foi ao médico, coisa que agora eu duvido.
O médico dela era sua dignidade. Sua força de espírito.
Me perdoem se pareço patético com este texto, mas isso mexeu demais comigo. Nunca quase chorei em uma situação assim. Nunca tive tanto orgulho de uma pessoa e raiva de como os humanos funcionam.
Aquela senhora… Aquela senhora não dependia de ninguém, e nem pediu nada enquanto eu fazia apenas o que eu gostaria que fizessem pela minha vó Bia. Ela só me pediu pra carregar suas bolsas pra, em segredo, continuar caçando qualquer coisa nos lixos que nós desprezamos.
Tive uma lição de dignidade hoje, e me sinto triste por ver jovens sem dignidade alguma por aí.
Mas no fim das contas, qual o preço da dignidade? Quanto vale o orgulho?
Eu não sei.
Você sabe?