Fazia muito tempo que Roberto não chegava perto de uma arma.
Sentia-se feliz com isso, mas também não podia negar que algo lhe faltava.
Na época em que em que atirava todas as noites, sentia-se realizado e completo. Cada disparo lhe dava prazer.
Na primeira vez em que ouviu o estalido da pistola, sentiu-se inseguro. Mas a arma cabia perfeitamente em sua mão. Nunca atirara melhor com nenhuma outra. A arma parecia gostar dele também.
Toda semana era um tiro diferente, mas sempre no mesmo lugar. E aquele chumbo todo ia se acumulando. Ele amava sentir o peso do chumbo, até que com o tempo passou a ter a cabeça pendida para baixo. Passou a arrumar seu quarto e manter tudo lindo. Tudo para que a munição nunca findasse.
Sempre que saia levava sua arma na cintura. Gostava de levar ela para todos os cantos… Sentia-se seguro desta forma.
Até que um dia não houve disparo e se desfez da arma.
No início não foi fácil.
Suas mãos pareciam não ter mais serventia e o chumbo acumulado pesava mais do que nunca.
Meses se passaram. Ele aprendeu a brincar com facas, mas os ferimentos nunca pareciam profundos. Depois o peso do das balas foi indo embora aos poucos. Ele ergueu novamente sua cabeça apesar de as sequelas terem permanecido.
Muito tempo depois a mesma arma de antes reapareceu em meio a bagunça acumulada debaixo da cama.
No início ele não sabia se queria aquilo.
Olhou com cautela… Acabou indo comprar munições apesar da falta de necessidade. Mas se queria sentir novamente a explosão rápida de uma bala sendo acionada por um gatilho, teria que esquecer suas facas.
No fim das contas carregou a pistola com seus projeteis. Encostou o cano em sua têmpora e disparou. Caiu na cama e sentiu novamente seu cérebro se remexer.
Estava feito.
Ele voltaria a se matar mais e mais vezes até que, mais uma vez, as balas se acabassem.
Bom para refletir!