Já faz algum tempo; não muito pra dizer a verdade, que minha agressividade caiu estratosfericamente. Aquele espírito jovem com o passar do tempo foi simplesmente desaparecendo. O sangue ferve com menos intensidade.
Uns oito anos atrás eu tinha muito menos paciência pra conversar ao ser desafiado; nos dias de hoje resta pouco daquilo. Tudo o que se quer é apenas ficar na sua, sem ser incomodado… Depois de ver tantas crianças nascendo no seu círculo de amigos, a única coisa que pedimos é um dia de Sol, um pouco de sombra pra sentar, uma cerveja e um bom papo enquanto as “pestinhas” correm pela rua.
Não me julgo velho de forma alguma, mas há de se dizer que quando se atinge e ultrapassa a barreira dos trinta anos de idade, algo muda de uma hora para outra sem aviso.
O corpo continua o mesmo de quando se tem 25 anos, mas não reage da mesma forma. A cabeça parece ficar mais rápida do que a ação da testosterona. Um rapaz começa a virar homem depois dos trinta. Não tenho dúvidas disso.
Aquele ímpeto de partir pra bordoada vai desaparecendo ao mesmo tempo em que a língua fica afiada feito faca e mais eficaz do que um murro bem dado no maxilar.
Me acho jovem ainda. Mas pessoas mais jovens do que eu me irritam. Não por serem ativas demais; não por serem infantis demais… Acho que a impulsividade e a sede de dominar o mundo é o que me irrita; esse terrorismo que eles plantam. E não existe chacoalhão que dê jeito nisso. Os adolescentes passaram a me irritar. Pelos Deuses… O pior é que eu sei que fui chato da mesma forma, se não mais!
Se finda a violência mental e corporal com a chegada da idade, ao menos na maioria dos casos, acredito. Aí as palavras ficam mais ágeis, as respostas vazam como manteiga e a sinceridade pelo simples prazer de se dizer o que pensa aumenta. O medo some de se revelar.
A juventude é agressiva e se esconde atrás dos medos.
Os mais velhos são lentos e se revelam deixando os temores para trás de si.
Hoje olho para meus pais e sinto vergonha de ter cantado e encarado como hino a música “Aloha” da Legião Urbana. Sinto-me uma merda pisoteada por alguém usando AllStar.
Fico vendo as pestes correrem e gritarem nos salões com música alta. Eles pedem pra eu “passar reto” por eles.
– Hoje não, camarada. Senta no meu colo. Vou te ensinar a beber e a não ofender meninas com suas palavras sujas! Vamos lavar essa boca com Vodca até podermos ver aonde vai chegar essa sua masculinidade que vai sair num jato de bílis pela sua boca, jovenzinho panaca!