Água Doce.


Repousado e deitado na beira do mar, vejo a onda, lá ao longe, fingindo ser mansinha, vindo vagarosamente ao longe.

Pouca água vem até mim. É inverno! Mas não há com o que se preocupar.

Encosto a nuca na areia e sinto o gelado!

De onde vêm estas águas? Quais continentes elas tocaram! Quais os mais belos mares que cada gota já tocou antes de encostar-se a meu corpo desforme, minha pele enrugada e meus cabelos já ressequidos em que, outrora, formavam belos cachos castanhos que com o passar do tempo se transformaram numa esponja de fios prateados em desordem.

De onde vieram estas águas?

Lá vem ela. A onda que vi ao longe cresce e se aproxima. Ela é linda! Passa por mim cobrindo meu corpo e arrancando meu sossego. Gelada e agressiva, arrasta-me para trás. Numa tentativa inútil, finco meus dedos na areia que escorrega por entre meus dedos deixando-me a sorte.

Levanto com os olhos ardendo. A boca com um gosto salgado que aos poucos fica amargo. Escarro vendo a onda sossegar à margem da praia e retornando silenciosamente ao mar, levando consigo toda a água que ali antes estava.

Ficam meus pés descalços na areia mole e ensopada. Lá se vai a onda. Não sei se ela me atingirá mais uma vez.

Escarro o sal e esfrego meus olhos.

Arde. Mas passa tão rápido.

Viro as costas ao mar e desejo boa sorte para a onda! Que ela visite outras praias.

Agora preciso de água doce.

 

– Sérgio Charro

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