Ele poderia passar horas a fio vendo os cabelos dela se moverem ao som da música enquanto ficava sentado.
Ele ficava lá, observando, paralelo à desgraça. Imóvel, inerte. Inerente a ela.
Ela dançava ao som da vida enquanto que, ele, observava a situação com olhos clínicos de quem sabia como tudo terminaria. Sua ternura já não era necessária. Na verdade, nunca foi. Ele sabia que devia parar de observar a música, que deveria ir para a pista dançar. Mas não. Ele estava levemente embriagado e com os olhos paralisados.
Quando ela o viu lá, feito estátua, resolveu parar um pouco.
Ele deu um gole de vinho e ela o beijou.
Parecia ser o suficiente até ela voltar a dançar.
E ele lá, sentado. Sem arriscar. Vilipendiado pelo afeto. Rejeitado pelas opções.
Mas ele assistia a tudo com olhos clínicos. Quem dança, tem muito mais riscos de se machucar. Mas ele estaria lá para impedir sua queda! Ele derrotaria a inércia por ela. Empurraria as pessoas, derrubaria sua garrafa… Atirar-se-ia ao chão para evitar que ela se ferisse. Ele rasgaria seus cotovelos para aparar a queda daquela moça.
No fim. Ela agradeceria, daria meia volta e tornaria a dançar.
Lentamente ele retornaria para sua cadeira.
Ele sabia que ia ser assim. Mas era impossível parar de observá-la dançar a música da vida.