Ando trabalhando em dois novos livros… O começo de um deles é este.
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São Paulo não é tão grande ao meu ver, e creio que a maioria dos seres que,como eu, que vagam pelas ruas dessa cidade, pensam da mesma forma.
Não. Não tive a oportunidade de viajar pelo mundo, mas já visitei alguns países e suas cidades maravilhosas. Por falar em algo maravilhoso, o Rio de Janeiro me incomoda um bocado. Não pelas praias, não pelo ar salgado e muito menos pela violência… O que me incomoda é aquela enorme estátua de concreto incrustada de braços abertos em cima de um morro fazendo homenagem a um dos mais importantes personagens bíblicos. E essa estátua permanece lá de pé, intacta, de braços estendidos faça calor ou faça chuva, tendo guerra ou não. Posso dizer que ela me incomoda muito e, acredite, não é por causa de desrespeito com qualquer religião, apenas digo isso porque conheci a personalidade homenageada, e ele mesmo não gosta daquele monumento que nada tem a ver com ele próprio. E acredite, tenho embasamento para poder falar de uma pessoa da qual já tomei uma dose de vodca num boteco na Rua Augusta.
Mas não é de Jesus que quero falar hoje. Meu ego especial me impede que eu fale de outra pessoa, a não ser eu mesmo, na primeira ocasião em que posso falar de “meu eu”. Deixemos o cristo para uma outra oportunidade.
Sou atraente, mas devo dizer que é mais pela minha forma de se comportar em uma conversa do que pela minha aparência. Sou delicado, tenho um corpo bem esculpido, apesar de não possuir músculos. Meus olhos são castanhos claros e meus cabelos são negros feito petróleo; lisos e escorridos até meus ombros. Muitas garotas têm inveja de minhas madeixas. Minha pele é clara como a Lua e lisa como uma peça de cristal, outro fator que faz com que muitas garotas me olhem com um ar de desejo. Minha voz é sadia e límpida, quase que como um violino Stradivarius.
Perdoe-me se pareço arrogante, mas tenho que fazer com que você entenda que sou um ser fora do comum. Sei como tratar uma mulher e sei como me comportar com os homens. Sei me comportar na presença de seres humanos, apesar de, há muito tempo, não ser mais um deles.
Deixe-me explicar. Meu nome é Lúcio. Sou um demônio. E venho aqui explicar coisas que você jamais pôde imaginar; ao menos tentarei fazer isso, pois não sou, de forma alguma, um bom contador de histórias. Muitos demônios são melhores do que eu quando querem se expressar, mas minha mente não partilha da arte de verbalizar com clareza os sentimentos e, tão pouco, os fatos corriqueiros que os humanos não conseguem perceber no dia a dia.
Como eu dizia, me chamo Lúcio, e quero que grave bem o meu nome, pois tenho certeza que depois desse meu singelo e mal feito relato, pensará com mais cuidado sobre aqueles que o rodeiam, pois nós, demônios, estamos em toda a parte, inclusive, algumas vezes, debaixo de seu teto.
Mas não pense em mim como um ser que odeia o mundo e as pessoas; esqueça tudo o que ouviu falar sobre nós, preciso que mantenha sua mente aberta antes que eu possa continuar com isso tudo, pois também não é nada fácil para mim. Eu amo a primavera e as árvores floridas, e também adoro parques com suas folhas secas durante o outono. Já do verão eu não gosto muito. Nos faz suar demasiadamente e desnecessariamente ao meu ponto de vista; bem, é que meu corpo não necessita de uma refrescagem biológica para que eu me mantenha vivo, no entanto, nós, demônios, suamos tanto, ou mais, que qualquer ser humano. Nossos corpos são muito mais vivos do que os seus. Não. Não tente entender isso agora. Quero que tudo flua aos poucos; vagarosamente, quero que você entenda exatamente o que quero dizer, então devemos caminhar com calma. Devo contar uma história, apesar de ser tão pouco hábil com isso, para que me entenda melhor.
Q inveja do cara!!! já tomou uma vodka com Jesus… 🙂
Um único pensamento latente: Lestat!!!!
(Me deu vontade de Anne Rice)