Um pedaço de minha literatura fantástica.


Orrahc estava sentado fazendo algo que detestava fazer: esperar. Já era noite e seu trabalho havia sido muito bem sucedido, agora era apenas uma questão de tempo para conversar com aquele que havia o contratado para tal serviço.

Com seus olhos cor-de-rosa, admirava a paisagem de sua terra, mas era inevitável olhar para o horizonte e ver a massa de fumaça cinza, da qual chamavam de Brisa, invadir lentamente e cada vez mais o espaço que ainda era verde e o céu que era tão azul que doía as vistas. Ele observava os pontos luminosos que passavam; ao mesmo tempo em que brilhantes, eram também tão transparentes que mal dava para ver; ele conhecia cada um daqueles pontos; sabia sobre cada um deles. De alguns ele gostava; de outros, não. Um dos que ele menos gostava se aproximava lentamente, ele coçou a ponta de uma de suas orelhas, rosnou e se levantou. Quando este ponto finalmente chegou ao seu alcance, ele retirou as luvas grossas de couro e o tocou; a paisagem foi mudando rapidamente até se transformar em uma vasta biblioteca, sem nenhum sinal de vida, com exceção da silhueta que estava ao fundo de um dos imensos corredores de estantes.

– Ora, ora. Se não é meu amigo Orrahc. – disse a voz que vinha do velho ao longe, quase oculto pelas sombras.

– O que me pediu foi feito – disse Orrahc sem cerimônias.

– Pude notar, acompanhei de longe seu feito, e com essa etapa concluída, poderemos ir mais a fundo agora, até que, finalmente, você consiga o que quer.

Orrahc olhou desconfiado e deu um passo à frente.

– Nem pense em se aproximar Elfo – disse a voz demonstrando cansaço – já disse a você que nossas negociações são feitas assim, dentro de meus sonhos, onde tenho mais domínio do que você, e sempre com uma boa distância, pois sei muito bem que seu povo é traiçoeiro.

O Elfo rosnou ameaçadoramente curvando sua espinha dorsal e dobrando levemente seus joelhos como quem está preste a realizar um ataque, mas retornou um passo para trás enquanto dizia:

– Diga logo o que quer então, pois ao contrário do que pensa, você precisa muito mais de mim do que eu de você.

A voz riu friamente.

– É o que você pensa não é? Pois não é meu mundo que a Brisa está consumindo.

– Isso também é o que você pensa, pois logo depois que a Brisa consumir o meu mundo, vai ser o seu que ela irá destruir.

A silhueta ao longe fez um movimento com a mão, um leve movimento, e o Elfo pode ver uma cadeira se aproximar da misteriosa figura, que por sua vez se sentou.

– Veja bem Orrahc, a Brisa é nativa de meu mundo, e poderemos controlá-la quando as Três grandes rainhas retornar de sua prisão.

Orrahc estremeceu e sentiu seus olhos umedecerem, baixou a cabeça e lamentou silenciosamente.

– Diga o que quer, velho humano.

– Como bem sabe, agora que finalmente quebramos os grilhões das rainhas, o próximo passo é destruir a Ordem, e para isso precisamos destruir Loja por Loja, sem deixar vestígio algum de desconfiança. Eu poderia fazer isso, mas acontece que no caso de alguém descobrir, eu não poderia arcar em derrotar a Ordem inteira de uma vez, certamente sucumbiria mesmo com todo poder que tenho, por tanto, é chegada a hora de você inflamar seu povo. Há tempos os Elfos não simpatizam com as ações dos humanos, que são os causadores da brisa que tanto denigre seu mundo aos poucos; basta uma faísca e uma batalha começará; uma batalha entre Humanos e Elfos é muito mais plausível do que eu simplesmente começar a destruir os Totens e arriscar a colocar tudo à baixo; uma guerra poderia fazer tudo mais rápido e não me colocar em risco.

Orrac o encarou com os olhos semi-serrados.

– Muitos Elfos morrerão, não posso arriscá-los de tal forma.

– Então meu amigo – disse a voz – Creio que terei que expulsá-lo de meu sonho para que você simplesmente se vire sem minha ajuda.

– Seria mais plausível que eu estourasse uma guerra como você quer e incluir você como um inimigo – disse Orrahc

– Sim, até seria, mas você está se esquecendo de um simples detalhe; foi uma das rainhas que fez o feitiço para abrir uma brecha entre o mundo dos bastardos humanos e o mundo dos Elfos, e é apenas ela quem pode selar de novo esta passagem, para que sua terra não sofra mais as conseqüências da Brisa.

Orrahc foi obrigado a concordar em pensamento assim que as palavras que ouvira o fizeram lembrar das lendas que rodeiam seu povo, e lamentando ele respondeu:

– Está certo, pensarei sobre isso e, caso eu fique do seu lado, falarei com o imperador, mas lembre-se, se me trair velho, se tudo não passar de uma armação, teremos tempo de sobra até que tudo se estabeleça para podermos matar você antes que consiga sua tão almejada eternidade.

Essa foi a primeira vez que o Elfo ameaçou a misteriosa figura de forma que funcionasse, pois até que ele conseguisse destruir todos os rastros da Ordem e concretizar todos seus planos, haveria muito tempo para que os Elfos notassem uma traição de sua parte.

– Não haverá traições.

– Já houve – Disse Orrahc friamente – A sua para com seu povo, mas nem pense em fazer o mesmo com o meu.

Então Orrahc virou as costas e, num simples piscar de olhos, estava novamente em sua terra. A primeira coisa que fez naquele momento foi olhar diretamente para a fumaça cinza que corroia a paisagem ao longe.

3 comentários em “Um pedaço de minha literatura fantástica.

  1. Aaaahh, amoreee… nunca deixe de escrever, nem de acreditar na sua literatura fantástica!! E nem fale umas baboseiras q vcs postou textos atrás, viu que agora vc é um escritor de verdadinha? 🙂 as coisas boas acontecem devagar, quase parando, mas acontecem… um passo de cada vez…

    Logo, logo quero revisar seu próximo livro!!! O texto acima é só uma palhinha, tem muito mais emoção depois… e personagens mto batutas rsrs eu garanto!!!

    Juízo ;***

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