No sertão, nesta fria estação quando a música acabar e o inverno chegar e a gente morrer e o tempo crescer, pode ser, assim, um tempo sem fim. Água fria da bacia, seus pés e os meus e seus filhos e teus netos e a falta de importância; vai ser assim, o inverno sem fim, sem ponto, sem vírgula, uma sentença da mais fria covardia que o amor pode te dar e a paixão te consolar e o ódio te aporrinhar e a raiva crescer dentro de ti, e dele, de mim, de seus filhos e seus netos e seus amigos. Seus dentes rangendo e a fome batendo, é inverno no sertão, poesia de cordel no varal feito em papelão e com água e sal pra chegar, no mar, no sangue, nos peixes, no vacilo de um tombo no barro, a pele é suja, não tem mais verso, não tem parágrafo, separa, sua, breve, agonia, de, sentir, o que há de errado em você e em mim e nos seus filhos e em seus netos, em seus pés enrugados, encharcados em pleno sertão nesta fria estação, repetitiva, distorcida, pobre, pobre amazona que não tem onde morrer e nem sabe correr com seus dedos rasgados e com os nós calejados…
… Nesta fria estação.
– Sérgio Charro
Amei!!!
😉