Covardia / Parabéns.


Meu pai não tinha idade, minha mãe, tão pouco.

A verdade é que nasci como um covarde.

Até seqüestrado eu já fui, acredite! Bom, dizem que aquilo foi um seqüestro, mas não me lembro, pois eu era um bebê.

Cresci sendo a piada da rua. O cara esquisito e feio que mora no 705. Não sabia me defender e nunca, nuca mesmo, tive alguém para me explicar como se faz, tive apenas pessoas que faziam tudo por mim.

Lembro-me uma vez em que apanhei na rua e meu pai saiu com a cachorra atrás do maloqueiro… Bem, meu pai dizia que era maloqueiro, mas não passava de um moleque de 10 anos de idade como eu.

Vi a necessidade em certa altura de virar um cara barra pesada, aí, com doze anos, aprendi a fumar. Para meu azar, no mesmo dia, minha mãe sentiu o cheiro e eu levei uma bronca enorme. O que mais me doeu nesse dia foi não ter apanhado.

O hábito de fumar carreguei comigo. Voltei a colocar cigarros na boca aos quinze anos de idade, daí não parei mais. E se você se perguntar se eu tenho medo de adoecer por conta disso, respondo que não, só tenho mesmo medo da forma da morte, mas não dela em si.

Continuando, tive que aprender a ser gente. Aprendi a trair e ser o cara mais “descolado” da rua, se bem que isso não exige lá muito esforço.

Com a mesma facilidade que aprendi a apunhalar as pessoas por traz, aprendi a me arrepender. Mas nunca, nunca na minha vida inteira, consegui deixar de ser covarde. Pode ser porque minha mãe era nova demais e meu pai ainda não tinha idade, não sei, mas ainda jaz em mim uma parcela de covardia que, insistentemente, faz eu lembrar da minha infância e adolescência. Na verdade a covardia foi a única coisa que sobrou de tudo isso, e mais nada.

Hoje tenho um orgulho falso ao acender meu cigarro na frente do computador e sorver um pouco de vodca. Quando faço isso, grito na Internet, faço protestos, brigo com as pessoas… Pois estou protegido por um escudo de 22 polegadas e Full HD.

Meu pai não tinha idade, minha mãe, tão pouco.

A verdade é que cresci como um covarde.

Covarde ao ponto de terminar qualquer texto sempre da mesma forma.

***

Parabéns para minha vó Beatriz que hoje faz aniversário, mas não acessa a Internet. E para a Elda também, minha amiga de todas as horas e de todos os textos.

Amo vocês duas!

Parabéns!

Ósculos e Amplexos!

 

 

2 comentários em “Covardia / Parabéns.

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