As crônicas de um Derrotado.


Já é a quinta vez que tento escrever isso… Sempre que vou salvar o documento, acaba a luz ou minha irmã ,gostosa e bem sucedida, tropeça no fio da extensão e desliga tudo… Da ultima vez, no momento em que ia clicar no desenho de disquete para salvar o arquivo, o monitor explodiu, um caco voou em meu rosto, caí da cadeira batendo o pé no Gabinete do computador, que por sua vez caiu em cima do gato que começou a miar de dor… Ele teria sobrevivido, claro, isso se o curto no monitor não incendiasse o raque de madeira que fez o fogo se espalhar pelo carpete carbonizando o bichano. Com grande astúcia minha irmã apagou o fogo antes dos bombeiros chegarem e ganhou uma medalha, congratulações do prefeito e a chave da cidade… Cidade do interior, sabe como é!

No dia seguinte estava a manchete no jornal: “Rapaz incendiário é salvo por sua brava irmã”. Na foto ela com os braços cruzado, um sorriso vitorioso e eu, ao fundo, de cabelos chamuscados sendo algemado.

Bom… Agora resolvi comprar canetas e um caderno. Assim não tenho riscos de que algo de errado. Pena que tive que gastar a grana das latinhas comprando duas caixas de canetas que falham a toda hora… Tudo bem!

O fato é que sou um derrotado! Moro apenas com Clarisse, minha irmã mais velha. Minha mãe morreu ao me dar a Luz, meu pai quando foi me salvar de um atropelamento… O reto da família morreu em minha festa de aniversário de 8 anos quando um caminhão invadiu o quintal… Eu estava brincando escondido e soltei o freio de mão.

Por esses motivos, nunca tive dinheiro, consequentemente, nunca tive um Playstation. E passava horas dormindo para sonhar que tinha um, mas o máximo que conseguia sonhar, era que tinha um daqueles mini-games com mais de 500 jogos, e nos sonhs sempre acabava a bateria.

Mas vejam só, eu tive uma bola de futebol, mas por outro lado não tinha com quem jogar. Eu não tinha amigos. Tive um, mas era um camarada de poucas palavras. Morreu quando me esqueci de limpar o aquário. Que saudades daquele peixe!

Quando fiz 15 anos, um vizinho se comprometeu a dar-me uma festa de aniversário! Mas sou tão fodido, tão fodido de doer, que as pessoas do Buffet se confundiram e acharam que era festa da minha irmã que já tinha 18 anos na época… Conclusão: Fui o primeiro ser humano do gênero masculino, em todo o mundo, a ter uma festa de debutante, com musica romântica, padrinhos e até um príncipe. Claro que virei a piada na cidade por uns cinco anos, isso porque aos vinte anos consegui minha primeira namorada.

Vejam só.

No terceiro ano de namoro ela engravidou. Nos casamos. A criança nasceu e ela, assim como minha mãe, faleceu. Nove dias depois, sete homens vieram dizendo ser o pai. Fizemos testes de DNA. A coisa foi tão complexa que o exame não conseguiu apontar de quem era o pai. Era uma mistura enorme… A única certeza que saiu no resultado em letras vermelhas, era que o filho não era meu.

Quando completei 25 anos consegui meu primeiro emprego. O legal é que eu viajava muito, até mesmo para outros países, mas com o tempo vi que não tinha vocação pra limpar merda de animais daquele circo nojento… Saí de lá com a clavícula fraturada quando o elefante resolveu brincar comigo. Voltei pra casa e minha irmã me recebeu. Meu cunhado não ficou muito feliz e um dia disse pra minha irmã que iria comprar cigarros…  Acontece que ele não fumava.

Mas nem pense que ela se abalou. Logo já havia muitos pretendentes no portão de casa.

Bom, depois escrevo mais. O vaso sanitário em que eu estava sentado escrevendo isso acaba de quebrar, rasgou minha nádega e estou sangrando horrores… Depois escrevo mais.

Felicitações.

3 comentários em “As crônicas de um Derrotado.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s