Alguém bateu à porta que estava emperrada. Do outro lado eu gritei: “Não a force, não quero que ela se abra, podemos muito bem conversar assim”… Mas do outro lado estava alguém persistente, de poucas palavras. Uma fresta foi aberta e o frio entrou como um inimigo. Gostei do ar fresco que vinha de fora, com cheiro de algo novo que queria me agarrar; ainda assim, com as duas mãos, lancei-me ao obstáculo de madeira e forcei contra. Não queria que se abrisse… Foi então que parou e eu levei minhas mãos ao meu peito… Fiquei em silêncio esperando que forçassem mais… Por um momento desejei, inconscientemente, que o ser lá fora fosse um pouco mais tenaz e que vencesse esta batalha contra mim.
Claro que eu não queria que a porta fosse aberta, mas tinha em mim uma curiosidade de ver novamente, do lado de fora, as boas novas que sussurrariam em meus ouvidos. Mas não forçaram mais.
Lentamente levei a mão até à maçaneta e com cuidado para não fazer barulho, desemperrei a porta e dei uma espiada pra ver o que havia lá fora. Novamente o frio me veio me deixando sem fala… Há quanto tempo eu não via o exterior de meu quarto.
Lá estava ainda me esperando. Não forçou mais nada, mas esperou e me sorriu quando me viu olhar. Sem perceber sorri de volta, quase que me arrependi no mesmo instante. Veio outro sorriso mais largo ainda, e logo nos pegamos a gargalhar. Aos risos eu disse:
– Vamos com calma. Ainda não estou pronto pra sair daqui. De tantos anos que se passaram, o sofá está com meu corpo marcado. Não sei se meus olhos se acostumarão com a luz aí do lado de fora. Abrir a porta já foi um ótimo passo, não é?
Sem responder nada, me pegou pelo punho e me puxou ao mesmo tempo em que corria. Corremos juntos dando risadas. Minha mão estava suada com tudo o que outrora escorria de mim. Não houve importância. Parecia secar agora. Então corremos sem saber onde parar, mas sabendo que havia algum lugar novo pra visitar.
Adorei! Sem brincadeira, de todos q escreveu até agora e que eu li, esse foi o que mais gostei! S2