Um conto de Blues.


Antes de ler, coloque um Blues pra ouvir.

 

A simples poesia da rua.

Você anda, não consegue parar. Caminha pelo asfalto molhado e venera a madrugada vazia da cidade grande. Continua caminhando.

Os deuses dormem, e que se dane.

A tristeza ainda está aqui, ao som do blues. Ao som lancinante de acordes que não fazem sentido. Vontade de gritar. Seu balde está cheio.

Acende o cigarro, aumenta o volume… As ruas se cruzam sem sentido algum. Você ajeita seu chapéu. É hora do Show.

O caminho de volta para casa nunca foi tão longo. Os pensamentos invadem a cabeça como mariposas em busca da luz da lâmpada. Mais uma noite sem dormir… Eu sei.

Caminha… Caminha… Anda sem sentido algum apenas para recuperar o caminho de casa. O pavimento está escorregadio, a cidade está quieta demais. O que podemos fazer?

Entra em casa e vê pessoas jogadas na sala já dormindo e o televisor ainda ligado. Amanhã é dia de trabalho… Você sabe que não vai precisar acordar cedo amanhã. Observa bem. E observando tem a absoluta certeza do que vai fazer.

O quarto está bagunçado. Coloca o velho vinil do Muddy Waters… O lençol está bagunçado, o que facilita bastante. Nada de desdobrar a roupa de cama. Escreve uma carta com rascunhos chorosos e tortos. O lustre deve segurar o peso de sua tristeza.

Blues… Blues… Blues, um ultimo cigarro e uma ultima dose de Uísque…  O mundo parece mais desinteressante. Amanhã é segunda-feira… Mas o Blues o faz esquecer. A gaita. O piano. O baixo e a guitarra… O ritmo da bateria… O mundo pode ser tristemente bonito… O lustre combina com o lençol… O lençol deve agüentar seu peso… O lustre deve agüentar o peso do lençol.

Por Sergio Charro – Escrito ao som de Muddy Waters.

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