Se você deixar, vou pular o carnaval. Tudo só depende de você. Será que a fantasia está boa? Será que o meu sambado já convence? Quem me vê sambando não diz que sou bom disso, e eu sei que não sou, por isso me mantenho parado como você sempre viu. Mas se deixar, entro na avenida e vou dar o meu melhor, mesmo sabendo que posso fracassar e parar no meio do enredo. Não vou saber cantar. Vou esquecer a letra. Mas se deixar, eu vou sair pra sambar. Se deixar, eu entro na avenida, mesmo que triste. Ainda triste eu vou sambar. Vou dançar até me machucar. Ou machucar alguém. Mas eu vou. Se você deixar eu entro. Eu vou me acabar e esquecer que odeio o carnaval. Isso porque eu sempre fico triste quando chega o carnaval.
Vou montar toda a alegoria. Vou fazer do meu carnaval o maior carro alegórico que já se viu na avenida. Vou detestar as cores, mas com o tempo eu posso gostar. Se você deixar eu vou! Estou já no acesso da avenida. Todos se divertem e eu morro em meu silêncio. Minha fantasia está horrível, mas pode ficar melhor a medida que eu sambar. Vou esquecer o rock. Vou entrar na avenida pra, finalmente, poder viver dentro da lei!
Não me deixe sambar.
Não me deixe entrar na avenida, pois eu sei que uma vez dentro, posso ser contaminado pelo samba, pela bateria e pelas mulheres. Não olharei mias torto quando passar pelo recuo. Salve-me…
No momento em que anunciarem a escola, segure minha mão e peça: “Não entre nessa avenida, isso não foi feito pra você! Você é mais do que samba, você é rock. Você é um fora da lei. Te busco na penitenciária com um carro que não seja roubado dessa vez. O teu relógio não vai parar dessa vez e nem vai ser encontrado tão longe de onde você está. Podemos viver fora da lei de uma forma que nunca agrediremos nossas próprias leis. E naquele bar onde te conheci. Naquele Saloon em que você se apaixonou, iremos mais uma vez para eu provar que você não pode viver sem mim em mais nenhuma manhã que nascer”.
Mas se não for assim. Se for embora. Eu vou pular esse carnaval até chegar à saída da avenida e, quem sabe dizer: “Carnaval é bom!”. Mas me conhecendo, ainda prefiro o bom rock, a boa mesa de bilhar e viver intensamente sem qualquer alegoria.
Não me deixe entrar na avenida.
“ Muito obrigado, eu já andei perfumado.
Não quero mais andar na contra mão”.
Eu não quero mais pular o carnaval.
Faz assim: começa na concentração e vá até a dispersão…sambar é o de menos, o importante é sentir na alma!