Se ninguém mais uiva, como poderá a Lua sorrir?


Eu já tive uma banda, mas isso faz muito tempo.

Estava olhando umas fotos aqui no meu computador, apaguei algumas, guardei tantas outras… E achei algo do qual não esperava.

 Saudades de meados de 2004… Uma boa história que fica cada vez mais distante, fazendo com que o sorriso da minha Lua fique cada dia mais e mais turvo, fraco e cínico.
   A idade chega mesmo (por mais que ainda ontem alguém ficou meio espantado por saber que tenho mais de 20 anos… Pode?).

    Pelo menos rendeu um Post extra no dia!

 Texto integral:
  O menino, parado, observava o fim do dia correr de mansinho, como quem quer escapulir de uma travessura, para dar lugar à primeira noite de Lua cheia. Ansioso ele estava, pois esperava seu amigo chamado Peter. Peter não era um menino qualquer, nem era menino coisa nenhuma, era gato. Gato que falava e não miava; miava pra fingir que era um animalzinho normal, como qualquer outro.

    Luís, o menino amigo do gato, era o único que podia conversar com o bichano

   O garoto observava, da janela, o dia passar pra noite chegar. No primeiro sinal da Lua, “TIBUM”, um barulho veio da cozinha.

  Luís correu e viu Peter, o gato, pulando da pia e revirando algumas panelas no meio do salto. O menino sorriu e foi dizendo:

 – Peter, meu amigo gato,
Eu vou só por um sapato
Pois quero ir ver lá da rua
Como é que brilha esta Lua!

    O gato, sempre esnobe, lambeu uma das patas, caminhou silenciosamente até a porta e esperou Luís voltar de pé calçado e falar:

 – Agora que já estou pronto
E preparado pra sair,
Eu ficarei ali de pronto
Até a Lua me sorrir

 O gato encarou o menino e foi logo exclamando:

 – A Lua não ri, Lua não canta
Não é pessoa, nem uma planta
Lua é do céu um teco de pedra
Em forma de arco ou de esfera

    O garoto olhou desconfiado, sem entender muito bem o que o felino o havia dito. Somente quando chegaram à calçada e viram o luar, é que Luís pediu explicação:

 – Lua é pedra, é o que me disse,
Mas eu a pego a provocar
Só de olhar estou a pular,
Não é mentira e nem crendice

    O gato sentou e pensou, e pensou, por um minuto. Então, começou:

 Lua é isso se imaginar
Sem o amor, como enxergar?
Imaginar é o poder
Só a criança o pode ter

    Luís não segurou o sorriso, pois havia compreendido o que o amigo quis dizer. Logo a seguir, foi fechando a cara e ficando emburrado enquanto, ao mesmo tempo, esbravejava:

 – Nunca hei de ser o oco adulto
Vazio de amor vira um vulto
Como eu sei que a Lua terei
Criança então é que serei

    Peter encarou o menino e retrucou logo de pronto:

 – Um adulto de bem sempre verá
É raro, eu sei, mas se pode achar
Se é isso o que quer, sempre a Lua irá ver
Vai crescer, mas criança ainda ser

 Luís, entendeu, com a ajuda de seu amigo gato, que a imaginação e a vontade de uma criança podem ajudá-la a realizar feitos incríveis e ainda adoçar a vida de todos ao seu redor. E, pouco depois de pensar nisso, ouviu sua mãe chamando-o para dentro. Então, dirigiu-se ao gato e falou:

 – Caro gato, sempre irei imaginar
Sempre vou brincar de Lua no luar
E estou feliz; pois, mesmo ao crescer,
Uma criança pra sempre eu vou ser

   Muitos anos depois, Luís ainda continuou vendo a Lua sorrir. Sorriu quando ele se casou; sorriu quando ele teve seus filhos; sorriu quando ele foi avô pela primeira vez; também a viu sorrir-lhe com ternura e compaixão quando seu amor partiu. Tudo isso porque ele nunca deixou de alimentar a criança dentro de si, e fez questão de passar isso à frente, aos seus filhos e aos seus netos.

   Ainda naquela noite, quando Luís ainda era criança. O gato ficou parado vendo o amigo entrar na casa depois do chamado da  mãe. Quando o pequeno finalmente o fez, Peter, o gato, olhou para a Lua e indagou:

 -Por que é tão difícil de vê-la aqui sorrir?
Devia como os outros, sobre isso, refletir
Exige tanto de quem só lhe quer bem
Deve-nos carinho e conforto quando vem

    A Lua, tão solícita, respondeu ao gato: 

– Amigo meu, felino, amigo meu!
Pois, quando aqui se cresce, embrutecemos
A criança é quem sabe, digo eu,
Deve-se nutrir quando aqui vivemos.

    O gato, concordou vagarosamente e saiu caminhando pela rua fingindo ser um animal qualquer no meio de tantos. Nessa hora, sem que ele percebesse, a Lua lhe sorriu.

 O gato, o menino e a Lua:I

Peter, meu amigo gato,

Eu vou só por um sapato

Pois quero ir ver lá da rua

Como é que brilha esta Lua!

 

II

Agora que já estou pronto

E preparado pra sair

Eu ficarei ali de pronto

Até a Lua me sorrir

 

III

Lua não ri, a Lua não canta

Não é pessoa,  nem uma planta

Lua é do céu um teco de pedra

Em forma de arco ou de esfera

 

IV

Lua é pedra, é o que me disse,

Mas eu a pego a provocar

Só de olhar estou a pular,

Não é mentira e nem crendice?

 

V

Lua é isso se imaginar

Sem o amor, como enxergar?

Imaginar é o poder

Só a criança o pode ter

VI

Nunca hei de ser o oco adulto

Vazio de amor vira um vulto

Como eu sei que a Lua terei

Criança então é que serei

 

VII

Um adulto de bem sempre verá

É raro, eu sei, mas se pode achar

Se é isso o que quer sempre a Lua irá ver

Vai crescer, mas criança ainda ser

 

VIII

Caro gato, sempre irei imaginar

Sempre vou brincar de Lua no luar

E estou feliz, pois mesmo ao crescer

Uma criança pra sempre eu vou ser

 

IX

Por que é tão difícil de vê-la aqui sorrir?

Devia como os outros sobre isso refletir

Tu exiges tanto de quem só lhe quer bem

Deve-nos carinho e conforto quando vens

 

X

Amigo meu, felino, amigo meu

Pois quando aqui se cresce, embrutecemos

A criança é quem sabe, digo eu,

Deve-se nutrir quando aqui vivemos

***

Ósculos e amplexos.

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