De pedras a anões.


A crônica prometida.

Sempre dei problemas a mim mesma.

Não que eu seja do tipo problemática, mas sim do tipo azarada. E haja dó pra cima de mim. Problemas a mim mesma. Sério. Desde criança.

Minha família já começou a me detestar desde os 7 anos de idade. Ao que me parece, tiveram menos paciência do que o resto do mundo, e olha que o mundo é grande pra caralho.

Tudo começou quando fui pra Roseira, interior de São Paulo; perto de Aparecida do Norte. Minha família resolveu fazer aquela viagem em que eu deveria conhecer aqueles parentes que eu nunca vi. Aliás. Vi quando era criança o suficiente para não reconhecê-los. Então foi aquela coisa de “nossa como você cresceu” pra lá e “cacete, ela é aquela menininha de colo?” pra cá.

Porra! Se estou com meus pais, qual a finalidade de perguntar uma idiotice dessas?

Não importa. De tanto tédio, resolvi ir brincar na rua comigo mesma.

Fiquei brincando de atirar pedras nos pombos. Parece maldade, mas aqueles ratos voadores realmente merecem a extinção. Transmitem doenças e ainda por cima cagam na sua cabeça quando você menos espera. Basta estar com a cabeleira descoberta para eles acharem que é uma espécie de latrina. Sei lá… Sei que jogava pedras nos malditos voadores, até que um de meus “projeteis” resolveu partir direto para a janela do vizinho a frente!

Antes que eu continue, quero deixar bem claro que foi nesse dia em que minha família começou a me detestar! Não!!!! Odiar seria a palavra exata.

Quando a pedra atingiu a janela, saí correndo para dentro da casa de minha quase conhecida tia. 15 minutos depois, eis que surje uma velha com a testa sangrando entrando em casa.  Essa senhora era a minha avó que eu não via há muitos anos. Nem lembrava dela. E foi por causa desse terrível fato. A pedra na testa. Que todos descobriram que a “coroca” tinha um caso com o velho da casa da frente.

Azar ou não, quem se ferrou fui eu, por ter feito meus avós se separarem com mais de 48 anos de casamento.

Pra mim tudo bem. Mal conhecia os dois!

Depois disso nunca mais me deixaram voltar para a casa de qualquer parente, conhecido ou não.

Certa vez, minha mãe tentou me trocar pela borracha da porta da geladeira. Meu pai interceptou as negociações, berrando em alto e bom som que aquilo era um absurdo.

Você deve estar pensando que ele estava me protegendo. Sem problemas; também achei. Até logo depois da parte do “absurdo”, ele dizer que já havia me prometido para o moço da mercearia da esquina em troca de duas caixas de latas de cerveja para assistir ao jogo do Corinthians que seria televisionado no sábado.

Ok.

Perdi a guerra e fui trocada, mas bem feito! O Corinthians perdeu naquele dia.

Bastou dois meses para o dono da mercearia me vender para um colégio de freiras, onde tive minha educação e cresci como uma boa pessoa. Lavando pratos e dando aos pobres.

Pra você ter uma idéia, até quando faço uma boa ação me fodo.

Veja bem!

Certo dia, já adulta, estava na Avenida Paulista esperando um ônibus.

Foi aí que me indignei quando vi uma criança se esforçando para subir os degraus do transporte, e ninguém ajudava!

Larguei a mochila no chão, estufei o peito e caminhei até a entrada do ônibus onde o pequenino tentava, com esforço, subir a escada. Pensei comigo onde estaria a mãe daquela criança, indefesa, sozinha, tentando no meio da metrópole pegar a condução de volta para casa ou seja lá pra onde for!

Com ela de costas para mim, segurei-a de baixo dos braços e a ergui até o degrau de cima. Aí que ouvi muitas risadas. Pensei comigo: “Riam de quem ainda tem humanidade nessa merda de cidade”.

Foi aí que a “criança” olhou para mim.

Espantei-me com as rugas na cara, o bigode imenso, parecendo uma foca… E a voz rouca, tipo “Darth Vader”, me dizendo com uma profunda decepção:

– Ô, moça. Num carece disso não.

########

O final dessa crônica teve inspiração numa história real.

3 comentários em “De pedras a anões.

  1. Valeu apena esperar…
    vc é the best*
    saudade master docê
    te amooo!

    Nuossa, mas o fim é inspirado numa história real mesmo? quero saber,rrsss

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s