Esta é uma crônica que escrevi para participar de um concurso da Astra que ocorre todos os anos, este é de 2008.
Fiquei surpreso por NÃO ter ficado entre os 20 primeiros na época, mas hoje, entendo completamente… Ô histórinha chata pra dedéu… Mas acontece que o tema era “O Meio Ambiente”, aí eu ia fazer o que? Me dê temas como “Prostituição e drogas”, “sexo sujo e assassinatos”,”meninas feministas e independentes”… Aí sim consigo fazer histórias… Mas meio ambiente… Fica difícil assim…
Agradecimentos para a Jô, que se não fosse ela, teria ficado pior!
Segue a crônica logo abaixo.
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Gritos da Natureza
(Note que até o título tem um ar imbecil).
Eu ainda vivo, e atualmente me pergunto todos os dias o que está acontecendo com o mundo, ao meio ambiente a qual pertenço, e com os homens. Pergunto-me porque o ser humano é tão prepotente, referindo-se a si próprio como uma raça formidável e destruindo tudo aquilo o que eles encontram pela frente e não são capazes de compreender com perfeição.
Antes, por aqui, o vento soprava fresco e úmido, trazendo novidades e o cheiro agradável do campo.
Eu vivia com meus pais e meus irmãos. Éramos felizes, sem dúvida, e eu os admirava muito, pois eram fortes e belos, e um dia eu haveria de, futuramente, me tornar igual a eles.
Certo dia, alguns homens chegaram fazendo muito barulho, um pouco distante daqui, mas o vento veio correndo trazer a notícia de que eles estavam construindo algo em um descampado perto daqui, e era verdade. Não demorou muito até que nuvens e neblinas aparecessem. Só que não eram nuvens de outono!
Nos primeiros dias pensamos que iria chover pesado, mas finalmente quando aquelas nuvens chegaram até nós, vimos que não eram nuvens de chuva, mas eram sujas. Nuvens de gazes.
Era muita poluição, até para nós, mas continuamos ali, tentando conviver com aquelas pessoas, pois poucos deles vinham até nós, e nós, nem que pudéssemos, não iríamos até eles. Fora a fumaça e o barulho, era como se eles nem estivessem ali.
Um dia os homens resolveram avançar. O amigo vento nos trouxe a noticia de que eles expandiriam “o lugar de fazer” fumaça. Estavam sendo liderados por alguém do qual chamavam de “Chefe”, e traziam ferramentas violentas… Eles tomariam nosso espaço!
De inicio fizeram cabanas perto de onde vivíamos, e no dia seguinte eles já eram muitos por aqui, até que começaram com sua violenta atitude sem sentido, essa crueldade bestial.
Eles riam enquanto cortavam, feriam e matavam! Nós estávamos tombando sem nem poder revidar. Não nos davam chance! Por quê? Qual o motivo que os leva a acreditar que assassinar cada um de nós é o melhor a se fazer?
Avançavam sem nos olhar, não se importavam com nossa história, não queriam saber nossos nomes e nem pensavam em muitos que dependiam de nós… Eles nem viam que também dependiam de nós.
Como queríamos correr dali e ir para bem longe, mas não podíamos fazer isso, mas eles podiam partir para cima de nós e nos derrubar pouco a pouco. Quem era mais forte morria primeiro, às vezes era necessário dois deles para poder fazer o serviço, outras vezes apenas um dava conta.
Demorou cerca de dois dias para chegarem ao local exato onde eu ficava. O pânico tomou conta de mim e da minha família. Os animais que partiram, talvez tenham se salvado, os que não conseguiram sair da floresta, tiveram suas vidas arrancadas tão impiedosamente quanto as nossas. Alguns por conta da fome dos homens, outros queimados pelo fogo que os humanos ateavam na floresta. Sim! Eles nos queimavam junto com o resto da mata. Derrubavam vários corpos no chão e o que não aproveitavam, colocavam fogo. Muitos morreram queimados, impiedosamente queimados! Será que os seres humanos têm noção do que é ver muitos de seu povo padecendo queimado? Será que eles se comoveriam com isto? Será que algum dia alguém fez tanta crueldade com eles?
Depois que avançaram pelos meus pais e meus irmãos, apenas fiquei em silêncio, chorando dentro de mim… Eu já não fazia mais parte dos gritos de minhas amigas, gritos estes que os humanos nunca vão ouvir, pois eles são destituídos de sensibilidade para nos escutar, ao menos a maioria deles.
Quando tudo acabou, as mais fracas ainda ficaram ali; as mais fracas e aquelas que não atrapalharam o caminho dos homens, eu fui uma delas. Eles jogavam os corpos em um mesmo lugar do terreno, alguns eram queimados, com outros, eles faziam verdadeiras pilhas e os levavam embora. Nem o direito de “descansar” no solo onde sempre viveram, tiveram… Foram levados.
O vento me disse que os homens aproveitam nossos corpos para muitas coisas. Que horror! Não quero pensar nisso.
Às vezes o meio ambiente fala comigo, mas hoje em dia ele tem que falar mais alto, quase gritando, porque o prédio a minha frente impede até mesmo o vento de passar. O ambiente grita ao falar e eu não consigo distinguir se é de dor ou de ódio.
Pensei que cresceria forte, estava errado. O pavimento não me deixa crescer, e o máximo que consigo fazer por vingança é rachá-lo com minhas raízes, porém mais hora ou menos hora eles vão vir me cortar e tapar o buraco como se eu nunca tivesse existido. Pois bem. Eles não sabem o que faz.
Uma das últimas coisas que meu amigo vento me disse, é que certa vez fizeram com os homens o que eles fazem com a gente… Mataram tantos homens quanto nos matam até hoje. Sendo assim, gostaria que me explicassem apenas uma coisa: Qual a diferença de nós árvores para com os humanos?
É! Nós somos melhores. Eles não aprendem.
Os homens não possuem ouvidos para o meio ambiente.
Não achei tudo isso que vc falou, um pouco longa, meio dramatica. Não sei se faria melhor…rs. Gostaria de ler historias com esses temas que vc se diz mais criativo! Adoro o que escreve, Sé.
Beijos
Ah, os homens não possuem ouvidos nem pra eles mesmos! Quanto mais para o meio ambiente!