“Lembranças de Luana”.
Foi naquela mesma noite em que você me disse que iria embora. Foi naquela noite que comecei a rever todas aquelas coisas entre nós dois. Eu era nova, eu sei, mas eu te amava com intensidade e diferente… Não era amor de pai, não era amor de mãe… Nem era amor de amante apesar de me derreter com você entre mim todas as noites em que minha juventude permitiu que eu ficasse ao teu lado… Eu ficava do lado direito; você, do esquerdo. E agente dormia depois que se amava sem nem mesmo descobrir que tipo de amor que era o nosso.
Mas aí você se foi, me deixou aqui deitada e meu bolo de quinze anos estava na geladeira ainda… Você disse que iria pra longe, precisava ficar longe de mim antes que fosse tarde de mais; antes que eu virasse sua cabeça de vez e você finalmente se apaixonasse… Aí você foi pra longe, me deixando apenas o apartamento que ainda é seu, uma conta de luz e a vergonha de meus pais… Você foi embora sem saber que eu estava grávida… Não. Eu não estava, mas poderia estar! E se estivesse?^
Machuquei-me com a mesma faca que feri os outros… A minha faca preferida. Cortei um tornozelo de cada vez àquela noite… Olhava para o chaveiro e não havia mais as suas chaves. No guarda-roupa não estavam suas roupas… na verdade você deixou uma camisa… A camisa que eu te dei no seu aniversário de 28 anos… Eu errei o tamanho porque não tenho noção dessas coisas.
Aí você se foi… Deixou-me os remédios, me deixou dinheiro com uma carta dizendo “Agora pode ir pra onde quiser”, me deixou um frasco de perfume pela metade e aquele vestidinho curto que você adorava que eu vestisse pra você quando saíamos juntos… Sempre que eu o vestia, você ficava louco; louco pra voltar pra casa e repousar em mim rugindo violentamente em meu ouvido… Mas você se foi me deixando a saudade, o medo de pensar, o amor que finalmente descobri o que era e meus documentos que me traziam a recordação de que eu já não era mais uma criança.”
Dulce far Niente. 